segunda-feira, 18 de abril de 2011

Terapêutica I: Fórum de Hipertensão I


Após a 2ª visita do Sr. Adauto, eu iniciaria o tratamento farmacológico imediatamente. O Sr. Adauto é um paciente com hipertensão arterial estágio I (mesmo com valores próximos aos limítrofes) e alto risco cardiovascular (presença de pelo menos 3 fatores adicionais de risco: tabagismo, dislipidemia, história familiar de doença cardiovascular, glicemia de jejum superior a 100 mg/dL e obesidade). Além disso, apresenta lesão em órgão-alvo (como hipertrofia de VE), e história de diagnóstico prévio de HAS (há 3 anos!). Já teve, além de tudo, história de crise hipertensiva (sic). Primeiramente, é importante lembrar que o tratamento não seria apenas farmacológico. Como já discutimos, a terapêutica engloba também mudanças no estilo de vida (e a literatura indica que em casos como este seja iniciado o tratamento medicamentoso em associação a mudanças de hábito de vida saudáveis). O paciente poderia se beneficiar do tratamento farmacológico devido a proteção que este confere aos órgãos-alvo por meio da redução da PA e do cumprimento das metas de PA adequadas de forma mais rápida, comparando-se a MEV (mudanças de estilo de vida) de forma isolada. Mas antes de qualquer coisa, é de extrema relevância fortalecer a relação médico-paciente, pois sabemos que ela constitui a base de qualquer terapêutica. Principalmente no caso do Sr. Adauto, que tem história de baixa adesão terapêutica, a relação médico-paciente torna-se ainda mais crucial para o sucesso do tratamento, por exemplo, permitindo esclarecimentos, e muito provavelmente estimulando e dando confiança ao paciente; deixando clara a importância do tratamento, e a efetividade da terapia combinada em reduzir a PA, comparativamente à MEV isolada.
Nesse caso, segundo as VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial, a meta (níveis tensionais a atingir) seria de 130/80 mmHg. Segundo essas diretrizes, essa é a pressão-alvo para pacientes com risco cardiovascular alto e muito alto, ou com 3 ou mais fatores de risco, DM, SM ou LOA, seja ele hipertenso estágio I ou limítrofe; como é o caso do Sr.Adauto.
O ideal, então, nesse caso, seria começar o tratamento farmacológico imediatamente, associado, claro, a mudanças no estilo de vida.  Mas daí a dúvida: qual ou quais medicamentos?  Uma opção, nesse caso, seria a associação entre um diurético (tiazídico) e uma outra classe de anti-hipertensivo (por exemplo, iECAs, que são excelentes: não alteram o perfil lipídico, aumentam a sensibilidade a insulina, etc, etc, etc).  Porém, é importante lembrar que os tiazídicos não estão indicados para esse paciente devido ao seu perfil lipídico e a hiperuricemia. Além disso, ele não tolerou bem o iECA, apresentando bastante tosse seca. E ainda, além de tudo, ele está em uso de anti-inflamatório não esteroidal (diclofenaco de sódio), que pode antagonizar o efeito hipotensor desses dois anti-hipertensivos (Inibidor de ECA + anti-inflamatório = antagonismo do efeito hipotensor;  Tiazídico + anti-inflamatório = antagonismo do efeito diurético). Portanto, substituiria o iECA por bloqueador do receptor AT1 da angiotensina II, e associaria um outro anti-hipertensivo (sendo os bloqueadores dos canais de cálcio a minha escolha). Os bloqueadores dos canais de cálcio não alteram o metabolismo glícidico nem o lipídico, e também são medicamentos eficazes. Portanto, prescreveria uma associação entre BRA II + BCC (como losartana+anlodipino), sendo essa associação bastante eficaz.